Papo de Poeta l Com Tony Casanova.

Lembro-me de quando escrevi minhas primeiras linhas, lá em 1976. Fiz aquilo com uma despretensão sem tamanho. Achava que nunca daria em nada, era algo feito apenas para satisfazer meu ego pessoal. Uma poesia com versos metrificados que foram estudados á exaustão. Fiz e larguei no fundo da bolsa que guardava meus livros da escola. Um dia, meio que sem querer, remexi aquelas tralhas, acho que para fazer uma limpeza na bagunça, quando encontrei aqueles rabiscos. Uma colega leu e adorou, achou "lindo", dai mostrou para a professora de português dizendo que tínhamos um poeta na sala. Bastou para que eu morresse de vergonha. Mas ao contrário do que pensei, a professora leu e também gostou. Disse-me que eu tinha veia poética. Lá sabia eu que diabos era ter veia poética, só sei que era bom porque a professora me disse aquilo sorrindo. Dai em diante ela começou a ficar exigente comigo e só me chamava de poeta na sala. Pronto, lá estava eu com a obrigação de ter dez em português senão ela pegava no meu pé. Foi dela que recebi os primeiros incentivos. A sala também ajudou-me muito. Passei a ser tratado com um respeito excepcional e as meninas começaram a me olhar com olhares mais, digamos, "doces".
Passei então a dedicar-me melhor por causa da exigências no colégio. Passei a ser xodó das professoras, diretoras e por fim de todo colégio. Começava ali a nascer uma reputação e com ela a necessidade da ética. Mudei meu comportamento, passei a ler mais, pesquisar e estudar mais. Foi ai que comecei a frequentar a Biblioteca do SESC-CACABHS no Siqueira Campos. Lá conheci uma pessoa que trabalhava como Bibliotecária e que chamava-se Elinete Hermínio. Foi ela quem me deu ainda mais incentivo. Pediu-me alguns trabalhos para ler e em seguida encaminhou para o setor ligado a Cultura e recomendou-me inscrever no Concurso de Poesias que aconteceria alguns meses mais tarde. A princípio recusei-me, depois aceitei e fiz a inscrição, mas sem nenhuma pretensão de ser selecionado. Na época haviam muitos inscritos, ao todo quase 2.500 trabalhos, muitos já na estrada bem mais tempo que eu. Ainda guardo com muito orgulho a placa de prata referente ao Terceiro lugar conquistado neste concurso. Choramos eu e Elinete. No dia da premiação eu era só lágrimas e estava de tal forma emocionado que nem conseguia dar entrevistas. Era o marco inicial que me lançava como escritor, mas não foi o prêmio de todo a recompensa e sim as palavras dos professores que fizeram parte do comitê julgador. Um dos presentes veio até mim e apresentou-se como professor de Filosofia da Universidade Federal de Campinas. Disse-me que encontrou no meu texto fortes nuances de Castro Alves e Augusto dos Anjos. Confessou-se um apaixonado pelo lirismo e que eu podia ser considerado um dos poucos autores ainda líricos do Brasil. Nem preciso dizer que chorei né.
Após a passagem de vários anos, dediquei-me a medir a qualidade do que fazia participando de concursos de poesias, sempre bem colocado entre os 10 primeiros, passei a acreditar no título de escritor. Foram anos de glória que divido com aqueles que julgaram e fizeram suas escolhas me colocando entre elas. Enfim, aqui estou, Tony Casanova, este humilde que dedica-se a dedilhar o teclado trazendo linhas repletas de sonhos para vocês. Um beijo no coração e até a próxima.

Texto do Escritor Brasileiro Tony Casanova. Direitos Autorais Reservados ao autor. Proibida a cópia, colagem, reprodução se qualquer espécie ou divulgação em qualquer meio, do todo ou parte dele sem autorização expressa do autor sob pena de infração ás Leis Brasileiras de Proteção aos Direitos Autorais.
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